Bastiana (Léa Garcia)

Léa Garcia - Bastiana


  Atriz carioca Léa Garcia nasceu em 11 de março de 1933 e hoje é uma das atrizes negras mais renomadas do teatro e da televisão no Brasil. Quando adolescente ela amava a poesia e admirava as obras de Cruz e Sousa e Langston Hughes, cujas obras a influenciaram nas reflexões sobre a situação do negro.

Aos 16 anos, Léa Garcia pensava ser escritora e preparava-se para cursar a Faculdade de Filosofia quando conheceu o Teatro Experimental do Negro e juntamente com outros jovens, ingressou na companhia liderada por Abdias do Nascimento.

Em 1952, Léa estreou como atriz no Teatro Recreio no espetáculo Rapsódia Negra de Abdias Nascimento. Ela interpretava poesia de Castro Alves.

Apareci em público pela primeira vez na “boite” Acapulco. Era a Rapsódia Negra e figurei num quadro – o Navio Negreiro – com um grupo do Teatro Experimental do Negro. No grande “show” dançava, fazia um lamento de Mãe Preta e declamava.

– Entrevista à Revista Fonfon, 1957.

Atuando junto ao TEN, Léa participou ainda das peças O imperador Jones, Todos os Filhos de Deus tem asas e Onde está marcada a cruz, todas de Eugene O’Neill; bem como O Filho Pródigo de Lúcio Cardoso, Sortilégio(mistério negro) de Abdias Nascimento, e O sapo e a estrela de Hermilo Borba Filho.

Durante sua carreira teatral, Léa Garcia esteve no palco, entre outras peças, em Anjo negro e Perdoa-me por me traíres, de Nelson Rodrigues; Cenas Cariocas; Orfeu da Conceição de Vinícius de Morais e Tom Jobim, dirigida por Léo Jusi; Casa Grande e Senzala sob a direção de João Mendonça; Soraia Porto 2, de Pedro Bloch; Piaf, com Bibi Ferreira; Para as mulheres que pensaram em suicídio quando basta o arco-íris, de Ntosake Shango; Romeu e Julieta, sob direção de Sérgio Brito; O maior amor do mundo de Cacá Diegues; Pequenas raposas de Lillian Hellman, sob a direção de Naum Alves; entre outros.

Paralelo aos palcos, Léa atuou também no cinema e na televisão. Teve grande destaque na sétima arte quando concorreu à Palma de Ouro de 1957, conquistando o segundo lugar no Festival de Cannes pela sua atuação como Serafina no filme Orfeu negro de Marcel Camus. Ainda se destacou nos filmes Ganga Zumba, de Cacá Diegues; Cruz e Sousa, poeta do Desterro, de Sylvio Back; O maior amor do mundo de Cacá Diegues, entre outros.

Em 2004 foi vencedora do prêmio Kikito de melhor atriz no Festival de Cinema de Gramado por Filhas do Vento, filme dirigido por Joel Zito Araújo. A mesma atuação lhe valeu também o prêmio de melhor atriz do júri popular daquele Festival.

Na televisão Léa Garcia também representou grandes papéis, sendo um dos mais famosos a personagem Rosa na novela Escrava Isaura.

Em seu trabalho de atriz, Léa levou o ativismo antirracista e as reflexões sobre a situação do negro na sociedade brasileira para os palcos e a dramaturgia. Na novela Marina, de 1981, Léa interpretou Leila, uma professora de história numa escola de elite onde sua filha era a única aluna negra. Em uma cena, os alunos deveriam refletir sobre o preconceito racial a partir da discussão sobre Zumbi dos Palmares. A atriz Léa Garcia pediu para modificar o texto original. Convocou uma reunião no Instituto de Pesquisa da Cultura Negra (IPCN), organização em que militava na época, para discutir o texto. O grupo revisou o texto e sugeriu modificá-lo de forma a mostrar o ponto de vista dos afrodescendentes sobre a questão. Aceita a sugestão de intervenção do IPCN, a cena foi alterada e Léa pôde atuar com mais confiança e desenvoltura de acordo com sua consciência política e racial.

O compromisso de Léa Garcia com a luta social da mulher negra continua firme, e ela vem sendo homenageada e premiada. Recebeu a medalha Pedro Ernesto da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro em 1994; a medalha da Academia Brasileira de Letras; o Golfinho de Ouro do Conselho de Cultura do Estado do Rio de Janeiro e o Tatu de Prata de Melhor Atriz (pelo curta-metragem Memórias da Chibata, de Marcos Manhães Marins) em 2007; Menção Honrosa no Festival de Gramado de 2008 por sua atuação em Hoje tem Ragu, de Raul LaBancca; homenagem no Festival de Cinema do Rio Grande do Norte de 2009 pela sua atuação no filme Dias amargos de Sílvio Coutinho.

Léa Garcia atuou como conselheira do Conselho de Cultura do Estado do Rio de Janeiro no período de 1999 a 2001. Eleita em 2010, ela hoje é diretora artística do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Direções (SATED).

Associada ao Sindicato dos Técnicos da Indústria Cinematográfica (STIC) na qualidade de roteirista de cinema, Léa é autora de dois filmes. Seu longa-metragem Aconteceu no Rio de Janeiro se compõe da adaptação cinematográfica de quatro contos de ficção de autores brasileiros. São eles “O batizado” de Cuti; “O cobrador e o deus vaca” e “Aconteceu no Rio de Janeiro” de Cidinha da Silva; ” Vovó veio para jantar” de Muniz Sodré. O média-metragem de ficção de Léa Garcia, Dublê de Ogum, se baseia no conto homônimo de Cidinha da Silva.


Fonte: http://ipeafro.org.br/personalidades/lea-garcia/


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