Paulo Reis - Comandante Lopes Carvalho
De 1972 a 1976, faz sua formação na escola de Maria Clara Machado (1921 - 2001), O Tablado. Durante os anos de 1976 e 1977, participa do Grêmio Dramático-recreativo Unidos da Ribalta, grupo político-teatral com atuação nas favelas do Rio de Janeiro, voltado para a conscientização e para o fomento de uma revolução pela arte engajada na cultura popular.
Em 1979, une-se ao projeto dos atores Maria Padilha e Miguel Falabella (1956) de montar O Despertar da Primavera, do alemão Frank Wedekind, escrito em 1890. Nove meses depois, o espetáculo estréia na zona norte do Rio de Janeiro, em uma sala pequena adaptada para esse fim. A encenação causa simpatia aos críticos mais severos, abordando a ação repressiva à sexualidade dos jovens, com uma neutralidade não maniqueísta que torna o tema uma metáfora de qualquer forma de repressão. O crítico Yan Michalski (1932 - 1990) considera que "o resultado da encenação de Paulo Reis é surpreendentemente convincente e competente".1 O diretor substitui a dramaticidade do texto por uma estilização que impõe aos atores o deslocamento de um extremo ao outro da sala, não constrói o ambiente cenográfico proposto pelo texto e distribui os 27 papéis pelos nove atores do elenco. Com o Pessoal do Despertar, Paulo Reis dirige mais quatro espetáculos. Com exceção de Delito Carnal, de Eid Ribeiro, 1980, todas as montagens partem, como a primeira, de textos clássicos da dramaturgia universal: Happy End, de Bertolt Brecht e Kurt Weill, 1980; A Tempestade, de William Shakespeare, 1982; O Círculo de Giz Caucasiano, de Bertolt Brecht, 1983. A cada espetáculo o diretor propõe um espaço diferente da disposição convencional das salas e este espaço acaba sendo o próprio cenário. O crítico Flávio Marinho considera que o maior mérito da direção de O Círculo de Giz Caucasiano é a unidade e a fluência na passagem das cenas de ternura às cômicas e às aventurescas, das cenas intimistas aos momentos de efeito (a entrada em cena de uma motocicleta ou a travessia de um telhado a outro, em uma frágil ponte). Segundo ele, "é o visual do espetáculo que reina, soberano. A partir de um espaço elisabetano bem aproveitado, a direção sabe explorar não só a arquitetura do pátio interno da Mansão Lage, como o reflexo do espetáculo no lago".2
Paralelamente, Paulo Reis dirige uma outra companhia de jovens. Em 1981, a Marxmellow Internacional Troupe, com a estréia de Os Banhos, de Vladímir Maiakóvski, marca a estréia teatral de Patrícia Pillar, Luciana Braga, Felipe Martins e Solange Badin, entre outros. Em 1983, ele faz a assistência de direção de Ron Daniels na montagem de Julius Caesar, de William Shakespeare, da Royal Shakespeare Company.
Sua próxima montagem, já sem o Pessoal do Despertar é Lorenzaccio, de Alfred de Musset, 1984. A ação se começa na rua, prossegue no foyer e se encerra no porão. A encenação se apropria da própria ambientação do teatro e seus elementos como cenografia, e distribui entre poucos atores as dezenas de personagens. Enquanto o crítico do Jornal do Brasil considera que ela vai pouco além de trazer a público um texto inédito no país, o crítico de O Globo, fazendo restrição ao elenco e à falta de direção na interpretação, escreve que o diretor realiza "golpes de mestre" em efeitos de grande impacto visual e que "o espetáculo termina sendo uma celebração do ofício de fazer teatro, cheia de soluções muito inteligentes e criativas".3
Em 1987, encena, sob a lona do Circo Delírio, espaço cultural montado na zona sul da cidade, Senhor Puntila e seu Criado Matti, de Bertolt Brecht. A crítica considera que o excesso de formalismo circense banaliza o texto e empobrece os personagens. No ano seguinte, Reis dirige uma remontagem de Bailei na Curva, de Júlio Conte, com grande êxito de público. Seguem-se Quatro num Quarto, de Valentin Kataev, 1989; Batom e Paraquedas, de William Mastrosimone, 1990; Amor e Confusão, de Arthur Schnitzler, 1992, e Julius Caesar, de William Shakespeare, 1994.
Paulo Reis, à frente do Pessoal do Despertar, assim como Buza Ferraz (1950 - 2010), com o Pessoal do Cabaré, é um dos poucos diretores que consegue agregar e manter um conjunto de atores nos primeiros anos da década de 80 - sintoma da mudança do panorama teatral em relação a década anterior, tão rica em grupos à margem do mercado cultural. Retoma, nesse período, os clássicos da dramaturgia mundial, imprimindo uma energia jovem e vigorosa aos seus espetáculos.
Fonte: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa19451/paulo-reis
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